Teórico do evolucionismo e do liberalismo clássico. Sem nunca ter frequentado uma escola secundária ou uma universidade, depois de ter sido maquinista de comboios, decide estudar filosofia como autodidata. Concebe a evolução como resultado da complexidade crescente, da cisão, da diferenciação e da passagem do homogéneo ao heterógeneo, do difuso ao denso. Influenciado por Comte, cria a expressão sobrevivência dos mais aptos, antes de Darwin. Considera que os factos psico-sociais nascem dos factos biológicos e que estes nascem dos fenómenos físicos e cósmicos.
“todos os que compõem a organização governamental e administrante unem-se entre eles e separam-se dos outros”, 100, 681 , 40, 247 –Poder soberano, 54, 337
Herbert Spencer, que nos seus Principles of Sociology, de 1877, considera a sociedade como um organismo social, na senda do darwinismo, um organismo marcado pela evolução, pela diversificação e pela especialização crescente dos diversos órgãos e parcelas, distinguindo claramente entre estruturas sociais e funções sociais.
Em Principles of Sociology, de 1875, foi um dos primeiros a considerar a existência dessa sociedade primitiva:”a causa que mais contribuiu para engrandecer as ideias dos fisiologistas, é a descoberta pela qual nós aprendemos que organismos que, no estado adulto, nada parecem ter em comum, foram, nos primeiros períodos do seu desenvolvimento, muito semelhantes; e mesmo que todos os organismos partem duma estrutura comum. Se as sociedades se desenvolvem e se a dependência mútua que une as suas partes, dependência que supõe a cooperação, se efetuou gradualmente, é preciso admitir, que apesar das diferenças que acabam por separar as estruturas desenvolvidas, há uma estrutura rudimentar donde todas derivam”.
“O facto de que as constituições não se fazem, mas crescem é apenas um fragmento do facto mais amplo de que, em todos os seus aspetos e através de todas as suas ramificações, a sociedade é um crescimento e não uma manufactura”
O organicismo vai ser particularmente reforçado com o evolucionismo de Darwin que, no domínio das ciências sociais se reflecte particularmente em Herbert Spencer (1820-1903).
Este logo em janeiro de 1860, imediatamente após a publicação de A Origem das Espécies, em Novembro de 1859, escreve na Westminster Review um artigo intitulado The Social organism, onde compara as sociedades feitas pelos homens aos organismos à base de células. Para ele, uns e outros começam por pequenos agregados que vão progressivamente aumentando. Ambos têm origem numa estrutura muito simples que pouco a pouco se vai complexificando; se, no começo, não existe uma dependência mútua entre as diversas parcelas, essa unidade vai crescentemente estabelecendo-se.
Neste sentido, critica o organicismo de Platão e Hobbes que “caem na extrema inconsistência de considerar uma comunidade como tendo uma estrutura similar à de um ser humano, e todavia produzida pelo mesmo modo que um mecanismo artificial – como natureza, a de um organismo; na sua história, uma máquina”.
Em Essays, Scientific, Political and Speculative, de 1890, desenvolve esta teoria, considerando que a sociedade é um organismo que está submetido às mesmas leis que os organismos vivos.
Obedece aos princípios da adaptação, que é condição de sobrevivência, e da evolução, condição de permanência das espécies. Se os organismos vivos inúteis se atrofiam e desaparecem, já os úteis tendem a desenvolver-se.
Em The Man versus the State, de 1884, chega mesmo a considerar que o Estado é um obstáculo à evolução natural deste processo orgânico, considera que visa interferir nas atividades dos cidadãos, mais do que o necessário para impôr as suas limitações recíprocas, é uma proposta que pretende melhorar a vida pela rutura com as condições fundamentais necessárias à vida.
Spencer, constrói em a personalidade jurídica do Estado por analogia com o “organismo social”, ideia por sua vez feita à imagem e semelhança do ser vivo.
Complexidade orgânica
Não admira pois que o organicismo sociológico, entendendo a sociedade como um organismo tenha começado a falar em estruturas, ou em órgãos, e funções, como aconteceu sobretudo com Herbert Spencer. Este último vem reconhecer que os organismos sociais quanto mais crescem em massa, mais se tornam complexos, ficando as respetivas partes cada vez mais mutuamente dependentes. Assim, essa passagem da simplicidade para a complexidade no corpo político, geraria uma functional dependance of parts, com centros coordenadores de uma espécie de sistema nervoso, destinados a receive infomation and convey commands. É que os organismos sociais seriam algo mais que a simples agregação da companionship e que a necessidade de ação combinada contra inimigos da multidão, dado que se destinam a facilitar a sustentação pela mútua ajuda-cooperação para melhor satisfação do corpo e eventualmente do espírito simpatia de que falavam Herbert Spencer e Adam Smith, mas antes na justiça como princípio objetivo de ordenação social, como ordem a realizar. Spencer, repetindo o relativismo aristotélico, há sempre uma alma de verdade em todas as coisas falsas e uma alma de erro em todas as coisas verdadeiras.
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The Proper Sphere of Government, 1842.
- Social Statics or the Conditions Essential to Human Happiness Specified, 1851.
- Over-Legislation, 1853.
- Representative Government. What Is It Good For, 1857.
- The Social Organism, 1860.
- Specialized Administration, 1871.
- Principles of Sociology, 1875.
- The Man versus the State. With Six Essays on Government, Society and Freedom, 1884 cfr. ed. Liberty Fund por Eric Mack, com pref. de Albert Jay Nock, Indianapolis, Liberty Classics, 1982.
- Essays, Scientific, Political and Speculative, 1890.
- The Principles of Ethics, 1891 cfr. ed. Liberty Fund em 2 vols. por Tibor R. Machan, Indianapolis, Liberty Classics, 1872.
- From Freedom to Bondage, 1891.
- Barata, Óscar Soares, «A Sociologia de Herbert Spencer», in Estudos Políticos e Sociais, X, 1982, pp. 203-252.