Um dos populistas russos.
Emigra em 1847. Em Paris, colabora com Proudhon. Instala-se em Londres, a partir de 1852, onde edita Kolokol (1857 -1865). Passa depois para Genebra.
É também autor de Memória e Pensamentos. Carta a um Velho Camarada (1869). Defende uma espécie de revolução rural, considerando que a Rússia pode passar do absolutismo ao socialismo sem passar pela revolução burguesa do capitalismo, desde que assente no mir, na comunidade rural tradicional, onde existe um sistema de exploração coletiva da terra.
Filho de um aristocrata russo e de uma alemã. Todo um ciclo de pensamento contraditório, dado que tanto se assume como ocidentalista como cai nos delírios populistas russos, tanto proclama o liberalismo, como defende o socialismo.
Antes de assumir a eslavofilia, tinha sido um entusiasta do ocidentalismo primeiro à maneira de Hegel e, em seguida, à de Ludwig Feuerbach (1804-1872), principalmente a obra Des Wesen des Christenthums, de 1841. A mudança de Herzen teria, aliás, ocorrido depois do autor, no exílio, ter sofrido a ressaca da revolução de 1848, passando, a partir de então, a detestar o que vai qualificar como o mercantilismo ocidental. Herzen, que nunca deixou de ser um romântico socialista, pouco dado a conciliações com o racionalismo de Marx, sonhava com uma federação das comunas camponesas livres. E, neste ponto, ter-se-á inspirado nas teses do historiador prussiano Barão August von Haxthausen que, entre 1847 e 1852, descrevia idilicamente o coletivismo agrário das aldeias russas no tempo de Nicolau I, as obshina, onde as assembleias camponesas (mir) tinham a missão de gerir coletivamente a terra comum e de arbitrar as disputas entre particulares.
Comunas que têm algumas semelhanças com as assembleias de vizinhos da nossa Idade Média, muito particularmente com o conventus publicus vicinorum, que tanto influenciou o municipalismo romântico do nosso Alexandre Herculano. As posições comunalistas de Herzen aproximam-se, também, do primitivo federalismo municipalista dos republicanos portugueses, como foi expresso por Henriques Nogueira, e têm certas afinidades com alguns recentes comunitarismos portugueses, desde o neo-republicanismo místico de Agostinho da Silva ao monarquismo dito anarco-comunalista de algumas alas do Partido Popular Monárquico.
Herzen, se também é responsável por cerrados ataques ideológicos ao czarismo, com a revista O Sino (Kolokol), editada em Londres, a partir de 1857- onde chega a proclamar que deve morrer o mundo atual, já que sufoca o homem novo e obstrui o caminho futuro. Viva o caos! Viva a morte! eis que acaba por considerar que é uma benção para a Rússia que a comuna rural nunca se tivesse desfeito, que a propriedade nunca tivesse tomado o lugar da propriedade comunal.
Para ele, a Europa Ocidental seria uma reincarnação do Império Romano em decadência, enquanto os eslavos poderiam assumir-se como os bárbaros que a vão destruir, mas para a regenerar. E isto porque atribui, ao Ocidente, o liberalismo e considera que a Rússia é socialista e cristã por essência
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Kolokol (1857 - …) (colaborações dispersas).
- Memória e Pensamentos. Carta a um Velho Camarada (1869)
- Maltez, José Adelino, O Imperial-Comunismo, Lisboa, Academia Internacional da Cultura Portuguesa, 1993, pp. 106 segs..
- Martins, Estevão Resende, «Alexandre Herzen», in Logos, 2, cols. 1111-1115.