Governo de Saldanha

1846 – 1849

SOBRE

manuel alegre

De 6 de outubro de 1846 a 18 de junho de 1849 (987 dias). 3º governo da restauração da Carta. Promove as eleições de 11 de outubro de 1847.

  • Presidente acumula a guerra e Interinamente os estrangeiros;

  • Marcelino Máximo de Azevedo e Melo, visconde da Oliveira, no reino (até 28 de abril de 1847)  e na fazenda, até 13 de outubro de 1846;
  • José Jacinto Valente Farinho nos negócios eclesiásticos e justiça (até 28 de abril de 1847);
  • D. Manuel de Portugal e Castro, na marinha e ultramar (até 28 de abril de 1847);
  • Visconde da Carreira nos estrangeiros, que não assume as funções, sendo substituído imediatamente por Saldanha (estava ministro plenipotenciário em Paris)[3].

Em 13 de outubro de 1846:

  • Visconde de Algés, José António Maria de Sousa Azevedo na fazenda, em lugar do Visconde da Oliveira, até 20 de fevereiro de 1847.

Em 4 de novembro de 1846:

  • José António Maria de Sousa Azevedo, Visconde de Algés substitui Saldanha na guerra, mantendo-se na fazenda;

  • D. Manuel de Portugal e Castro nos estrangeiros, em lugar de Saldanha.

Em 20 de fevereiro de 1847:

  • João de Oliveira, conde do Tojal, na fazenda, até 22 de agosto de 1847;

  • Barão de Ovar, General António da Costa e Silva substitui o Visconde de Algés na guerra[4].

Em 27 e 28 de abril de 1847:

  • Francisco Tavares de Almeida Proença substitui Marcelino Máximo de Azevedo e Melo no reino (até 22 de agosto de 1847)[5];

  • Manuel Duarte Leitão substitui José Jacinto Valente Farinho nos negócios eclesiásticos e justiça (até 22 de agosto de 1847);
  • Ildefonso Leopoldo Bayard substitui Ovar na guerra e D. Manuel de Portugal e Castro nos estrangeiros;
  • Conde do Tojal substitui D. Manuel Portugal e Castro, na marinha e ultramar[6];
  • Valente Farinho, visconde da Oliveira,  visconde de Algés e D. Manuel Portugal e Castro saem do governo.

Em 3 de maio de 1847:

  • Barão da Ponte da Barca, Jerónimo Pereira de Vasconcelos substitui Bayard na guerra.

Em 22 de agosto de 1847:

Ampla renovação governamental, na sequência da Convenção do Gramido:

  • António de Azevedo Melo Carvalho, no reino, em vez de Almeida Proença (até 18 de dezembro de 1847);

  • Francisco António Fernandes da Silva Ferrão nos negócios eclesiásticos e justiça, onde substitui Leitão (até 18 de dezembro de 1847); 
  • Marino Miguel Franzini na fazenda, em vez de Tojal;
  • o barão de Almofala, brigadeiro Silva Leão, substitui o barão de Ponte da Barca, na guerra, até 8 de janeiro de 1848;
  • João de Fontes Pereira de Melo na marinha e ultramar, substituindo o conde do Tojal (até 18 de dezembro de 1847);
  • Velez Barreiros, barão da Senhora da Luz, nos estrangeiros, em lugar de Ildefonso Leopoldo Bayard[7].

Em 18 de dezembro de 1847:

  • Saldanha na presidência, na guerra (onde substitui Almofala) e nos estrangeiros (o barão da Senhora da Luz);

  • Bernardo Gorjão Henriques no reino, onde substitui Melo e Carvalho (até 29 de março de 1848);
  • Joaquim José de Queirós e Almeida nos negócios eclesiásticos e justiça, em vez de Ferrão;
  • Coronel José Joaquim Falcão na fazenda, em vez de Franzini;
  • Agostinho Albano da Silveira Pinto na marinha e ultramar, em vez de João Fontes Pereira de Melo[8].

Em 8 de janeiro de 1848:

  • Brigadeiro Fernando da Afonseca Mesquita e Sola, Barão de Francos, ministro da guerra, em vez de Saldanha[9].

Em 21 de fevereiro de 1848:

  • D. José Joaquim de Azevedo e Moura, bispo de Viseu, no ministério dos negócios eclesiásticos e justiça, em vez de Joaquim José Queirós (até 29 de março de 1848)[10].

Em 29 de março de 1848:

  • Saldanha no reino em vez de Gorjão (até 1 de junho de 1849);

  • João Elias da Costa Faria e Silva, ministro dos negócios eclesiásticos e justiça, em vez do bispo de Viseu (até 29 de janeiro de 1849);
  • José Joaquim Januário Lapa, Visconde Vila Nova de Ourém na marinha e ultramar, em vez de Albano[11];
  • José Joaquim Gomes de Castro nos estrangeiros, até 18 de junho de 1849 (substituído por Saldanha de 3 de maio a 1 de junho de 1849, por doença).

Em 1 de junho de 1849:

  • José Marcelino de Sá Vargas, ministro do reino (até 14 de junho de 1849).

Em 10 de julho de 1948:

  • José Joaquim Gomes de Castro passa a acumular a pasta da marinha e ultramar, substituindo o Visconde de Vila Nova de Ourém[12].

Em 29 de janeiro de 1849:

  • António Roberto de Oliveira Lopes Branco na fazenda, em vez de Falcão;

  • José Joaquim Januário Lapa na pasta da guerra[13];
  • José Marcelino de Sá Vargas na justiça, até 18 de junho de 1849, em vez de Faria e Silva.

Em 3 de maio de 1849:

  • Barão de Vila Nova de Ourem na marinha.

Em 14 de junho de 1849:

  • Saldanha retoma os estrangeiros????

De 6 de outubro de 1846 a 18 de Junho de 1849, durante cerca de trinta meses, vamos ter o segundo governo da presidência de Saldanha que promove as eleições de 11 de outubro de 1847. Tudo começa com o golpe da emboscada, com apoio do Paço. Como observava Silva Carvalho mudou o ministério, foram restituídos aos seus comandos os que a revolução havia tirado, tudo permaneceu em sossego (II, pp. 43-53). Em 7 de outubro, suspensas as garantias constitucionais por 30 dias; a suspensão será prorrogada em 5 de novembro e 6 de dezembro. Em 9 de outubro, declarados sem efeito os decretos de 27 de julho, considerados contrários à Carta[1]. A reunião das Cortes ficou adiada sine die. É o período auge dos cinzentões maçónicos, dos juízes e generais que haviam figurado como segundas figuras das guerras liberais. É, sobretudo, o começo do fim dos mindeleiros, entrando em cena como protagonistas alguns mais novos.

O governo está completamente dominado pela maçonaria. O visconde da Oliveira, Marcelino Máximo de Azevedo e Melo foi eleito, em 15 de agosto de 1846, Grande Inspetor do Grande Oriente Lusitano. Passou a ser o grão-mestre de facto, na ausência de António Bernardo da Costa Cabral. Para o cargo de grão-mestre chegou a ser convidado o marquês de Fronteira que nem sequer era maçon.

Em 9 de outubro, novo decreto eleitoral convoca as Cortes para 2 de fevereiro de 1848.

Guerra

Em 10 de outubro começa a sublevação no Porto. Terceira que tinha sido enviado à cidade como lugar-tenente da rainha, foi logo preso. No dia 11, o conde das Antas, Francisco Xavier da Silva Pereira, vindo de Braga assume o comando militar da revolta. Preside à Junta e tem José Passos como vice-presidente. Circulam manifestos a revolução do Minho, a revolução mais gloriosa da nação Portuguesa foi traída pela Soberana. Surgem guerrilhas por todo lado. O governo e a banca juntos tentam armar gente, mas só conseguem 3 000 homens sob o comando de D. Fernando.

Canta-se:

Eia avante! Eia avante!

Eia avante! Não temer!

Pela santa liberdade,

Pelejar até morrer!

Segundo Oliveira Martins, esta gente … chamada à revolta sentia pulsar-lhe nas veias o antigo sangue de nómadas barbarescos, de bandidos históricos, serranos guerreiros: não os minhotos, mas os transmontanos, os beirões, os estremenhos, e toda a população transtagana (PC, II, p. 179)

Pedida a intervenção estrangeira

Logo em 13 de outubro Saldanha pede a Intervenção das potências da Quádrupla Aliança, alegando o surgimento de uma revolta miguelista. Espanhóis mandam logo um corpo de intervenção para as fronteiras. Cabral era embaixador em Madrid. Mas Londres, onde governa Palmerston diz não haver miguelistas e impede a intervenção espanhola. Como salienta Oliveira Martins, PC, II, p.171, Nós, em casa, evidentemente não tínhamos força para nos governarmos; e depois de doze anos de liberdade, o Portugal novo achava-se, como o antigo se achara, dividido em duas fracções sem que nenhuma tivesse poder bastante para submeter a contrária.

A venda das colónias

Começa também a louca ideia da venda das colónias, como processo de resolução dos problemas metropolitanos. Segundo Silva Carvalho, J. António Maria de Sousa Azevedo queria dar Goa à Inglaterra para que ela nos fizesse um bom donativo de dinheiro (II, 456). Ou de como o velho do Restelo reaparece sob a veste do financeiro…

Sucessos da Guerra

Em 4 de novembro, exércitos da Junta ocupam Santarém. No dia 16 de novembro, Sá da Bandeira é derrotado em Valpaços pelas tropas do barão do Casal. No dia 20, Sá da Bandeira, quando regressava ao Porto, é atacado pelas guerrilhas miguelistas de Mac Donnel. No Alentejo, os patuleias são comandados pelo general celestino, futuro visconde de Liceira, por Bonfim e pelo conde de Melo. Cartistas no Alentejo são comandados por Schwalbach. Em novembro, a Espanha, temendo o contágio dos miguelistas, depois de apoiada pela França de Guizot, consegue que os britânicos aceitem o princípio da intervenção em Portugal. Em 4 de dezembro, os miguelistas atacam Viana do Castelo. Serão dizimados em Braga no dia 31 de dezembro. Mac Donnel será chacinado em Vila Pouca de Aguiar no dia 30 de janeiro de 1847. Esquarda cartista, comandada por Soares Franco, bloqueia o Porto.

Em 22 de dezembro, Saldanha vence os patuleias em Torres Vedras, destroçando as forças do conde de Bonfim. Cerca de três centenas de baixas entre os patuleias.

Em 9 de janeiro de 1847, o general Póvoas nomeado comandante militar das duas Beiras, aliando-se a Sá da Bandeira.

Sucessivas suspensãoes das garantias constitucionais (decretos de 6 e 27 de janeiro; 6 de fevereiro, 6 de março, 6 de abril, 6 de maio e 6 de junho).

Comerciantes de Lisboa aplaudem a chegada de Tojal à fazenda. Os funcionários públicos não são pagos desde Outubro. Em 17 de novembro de 1846, o Banco de Lisboa passa a designar-se Banco de Portugal, depois de fundir-se com a Companhia Confiança.

O exército da Patuleia, comandado pelo conde de Melo, ataca Estremoz em 27 de fevereiro. Sá da Bandeira, assumindo-se como lugar-tenente da Junta, desembarca no Algarve e inicia marcha para Lisboa. Chega a Setúbal e junta-se às tropas do conde de Melo e às guerrilhas do Sul. Tem como colaboradores Braamcamp e José Estevão (9 de abril) Tumultos em Lisboa, onde estacionam tropas inglesas e espanholas (11 de abril). Sá da Bandeira detém-se em Setubal. Perde 500 homens no combate do Alto do Viso. Cartistas comandados pelo conde Vinhais (16 de abril).

Valente Farinho, visconde da Oliveira,  visconde de Algés e D. Manuel Portugal e Castro saem do governo.

Novos tumultos patuleias em Lisboa. Fogem seiscentos presos do Limoeiro. Fome (29 de abril). Sá da Bandeira, depois do combate do Alto do Viso, aceita armistício (1 de maio).

Esquadra britânica bloqueia o Douro impedindo a saída da esquadra do conde das Antas (27 de maio). Divisão espanhola ocupa o Porto (3 de junho). Sá da Bandeira aceita submeter-se (12 de junho). Convenção do Gramido (24 de junho). Assinam Loulé e António César Teixeira de Vasconcelos pelas juntas, na presença dos espanhóis general D. Manuel de la Concha, coronel Buenaga e o inglês coronel W. Wylde Como salienta Oliveira Martins, o povo voltava para casa, chorando: chorando assistira à entrada de Concha[2].

Depois da Convenção do Gramido, ocorre em 22 de agosto de 1847 uma ampla renovação do governo. Apenas se mantém o presidente, Saldanha. Segundo as palavras de Lavradio, era o chamado governo lânguido e ambíguo, face à impossibilidade da constituição de um governo forte, como chegou a ser tentado com a integração de Rodrigo da Fonseca e Silva Carvalho. Este governo começou por declara-se imparcial, mas logo tenta formar um terceiro partido, integrando cartistas e setembristas moderados.

António Bernardo da Costa Cabral regressa do exílio e organiza em Lisboa um centro cartista que tem João Rebelo da Costa Cabral como o principal organizador.

Eleições no dia 1 de outubro.

Guerra civil

Seguiu-se novo período de guerra civil, a partir de março de 1846, onde, de armas na mão, surgiu nova ampla coalizão, com setembristas e miguelistas. Como expressava o guerrilheiro miguelista, o Padre Casimiro José Vieira, numa carta escrita a D. Maria II, de 6 de julho de 1846, depois de a ter lido ao povo para saber se o que nela se dizia era a vontade de todos[14], considera o novo governo como uma farsa e combinação das seitas  para tudo ficar como até ali, com a mudança apenas de pessoas[15]. Fala d’ opressões injustas que têm feito ao povo, tratando-o até agora como se fossem negros e escravos [16] e pede à Rainha que nomeie para toda a parte homens da maior integridade e desinteresse … homens escolhidos à vontade do povo[17]; que se baixem os impostos; nomeadamente a abolição das portagens; que as magistraturas locais possam ser exercidas gratuitamente que aos deputados se lhes façam os gastos da comida e transportes à custa do povo, mas que não embolsem dinheiro nenhum, para que depois não haja nas eleições tanto suborno, e o povo atine com a boa escolha. Considera também a hipótese de um exército popular: quer também o povo … que nas guardas nacionais entre todo o homem voluntariamente … e que os oficiais sejam escolhidos por votação de todos os militares da guarda nacional[18]. Defende o sufrágio universal: as eleições para toda a espécie de justiça e autoridade sejam de todo populares sem exceção de pessoa, a não ser as que não leem, nem escrevem, para evitar enganos e despertar a instrução, porque só assim se pode exprimir a vontade geral dos povos, que é a verdadeira lei[19].

A sublevação terá começado em 19 de março de 1846, em Santo André de Frades, concelho da Póvoa do Lanhoso. Depressa se propagou ao Minho, sob a liderança de padres miguelistas como Casimiro José Vieira, João do Cano, Manuel das Agras e José da Laje. Entretanto, em 7 de maio, já uma série de deputados pede a demissão do governo[20].Costa Cabral ainda começou por desdenhar da movimentação, chamando-lhe revolução do saco ao ombro e da roçadora na mão, mas em 17 de maio já o governo foi obrigado a apresentar a respetiva demissão[21].

O ódio ao novo Estado é tal ordem que os revoltosos começavam quase sempre incendiando as delegações locais da fazenda, eliminando os registos e supondo que assim deixariam de pagar contribuições. Em breve este grupo de pata ao léu passa a ter a colaboração e o enquadramento dos pés frescos do setembrismo, formando-se, por todo o reino, juntas revolucionárias a partir dos gabinetes locais da coalizão oposicionista. A primeira surge em Vila Real, presidida pelo morgado de Mateus. Estudantes de Coimbra deslocam-se à Figueira da Foz e assaltam o forte de Santa Catarina. Passos Manuel preside à junta de Santarém. Em Braga é o visconde do Valongo.

Entretanto, em Lisboa, tenta-se uma solução de compromisso, com um novo governo que pretendia assumir-se como um triunvirato dos três duques. Palmela assume a presidência e mantém Terceira, esperando a chegada de Saldanha, então embaixador em Paris. Mas o intervalo pacificador não vai resultar.

Como observa Camilo Castelo Branco, se o fermento azedo que fez levedar a revolução de 1846, foram as assuadas das mulheres à volta dos cadáveres exumados, o que seria irrisório se não fosse bestialmente repugnante, eis que o setembrismo resvalou dos seus briosos princípios avançados, porque estes ao preconizarem … um tumulto fanaticamente alarvejado como estimulante de evolução progressista foi descaro que transcende  todos os maus costumes da devassa Política. Arguiam a rainha e os seus ministros prediletos de retrógrados, escarneciam a religião nos prelos e nos templos, e ao mesmo tempo insinuavam no clero miguelista do Minho que acirrasse a plebe boçal contra a lei ímpia que proibia as inumações na terra das igrejas. Os de setembro, espíritos fortes e demolidores dos preconceitos inveterados, desonraram-se legitimando o canalhismo do motim popular nos adros e o incêndio dos arquivos nas regedorias e nas câmaras[22].

Convenção do Gramido

Com a Convenção do Gramido, imposta por forças militares estrangeiras, em nome da Quádrupla Aliança de 1834, a santa liberdade acabara usurpada. Como então chega a proclamar Rodrigues Sampaio, deixávamos de ter uma coroa pela graça de Deus e pela Constituição, dado que a mesma passava a sê-lo por graça dos aliados, ingleses e espanhóis, sobretudo, e vontade do estrangeiro.

Aliás, logo em abril de 1848, surgem os primeiros jornais republicanos e, no mês seguinte, formou-se a Carbonária Portuguesa, num movimento também influenciado pela chamada primavera dos povos.

Depois de mais seis anos de uma primeira guerra civil (1828-1834), de dois anos de vindicta (1834-1836) e de seis anos de indecisão revolucionária (1836-1842), o cabralismo ainda conseguiu impedir, com o apoio estrangeiro, uma revolução que vinha de baixo para cima, em nome do tal país das realidades que queria ser soberano. Com efeito, as confusões regeneradoras do vintismo que levaram ao confronto entre pedristas e miguelistas, acabaram depois por gerar novo confronto entre os patuleias e os cabralistas de que só viria a sair-se com nova regeneração, a partir de 1851.

Reorganização do governo na sequência das eleições de 1 de outubro de 1847.

Fornada de pares

José Bernardo da Silva Cabral abandona o partido cartista e passa para a oposição.

Em 8 de janeiro de 1848, protesto de alguns pares do reino a Guizot, sobre o ato eleitoral. Em 28 de janeiro de 1848, alguns antigos chefes da Junta do Porto escrevem a Guizot, protestando contra o ato eleitoral[23]. Segundo Fronteira, Queirós era de tanta idade e vivia tão retirado que todos nós o reputávamos morto[24]. Assim, mantendo-se ausente, foi logo substituído pelo ministro do reino, Bernardo Gorjão Henriques, assumindo efetivamente a pasta de 21 de janeiro de 1848 a 21 de fevereiro seguinte. O mesmo Fronteira observa que os cavalheiros que compunham o Ministério eram probos e a maioria era de homens instruídos; contudo, apenas tinha dois homens capazes de administrar: Gomes e Castro e Falcão[25].

Fronteira chegou a ser convidado, mas recusou[26].

Em 29 de janeiro de 1849, Saldanha procedia a nova recomposição ministerial. Como observava Camilo, Que boa recomposição! que gente! que escarnecer tão ridículo das nossas necessidades[27].

Em abril de 1849 surgem os primeiros jornais republicanos em Portugal. Em maio, José Estevão, Oliveira Marreca e Rodrigues Sampaio criam uma comissão revolucionária que se propunha organizar juntas revolucionárias civis e militares para a instauração da república. A partir dessa comisão é formada a Carbonária Portuguesa. A sublevação de Paris ocorrera em 15 de maio de 1848. Em 9 de fevereiro de 1849 Giuseppe Mazzini havia proclamado a república em Roma. Os austríacos vencem em Novara Carlos Alberto da Sardenha (23 de março), subindo ao trono Vítor Manuel II.

Morte de Mouzinho da Silveira, em 4 de abril de 1849.

Em 21 de outubro de 1849 era assinada a Concordata. Enquanto isto, 26 candeeiros de iluminação a gás começam a funcionar na Baixa de Lisboa.

O pretexto para a queda do governo foram as intrigas entre o ministro da guerra e o marquês de Fronteira.

[1] Ver António Ribeiro dos Santos, p. 168.

[2] II, p. 207

[3] Ver Memórias do Conde de Lavradio, III, p. 223.

[4] Ver Memórias do Conde de Lavradio, III, p. 262.

[5] Ver Memórias do Conde de Lavradio, III, p. 263

[6] Idem, p. 263.

[7] Ver Memórias do Conde de Lavradio, III, pp. 264-265.

[8] Ver Memórias do Conde de Lavradio, III, pp. 266-267.

[9] Ver Memórias do Conde de Lavradio, III, p. 279.

[10] Ver Memórias do Conde de Lavradio, III, p. 279.

[11] Ver Memórias do Conde de Lavradio, III, pp. 279-280.

[12] Ver Memórias do Conde de Lavradio, III, p. 280.

[13] Ver Memórias do Conde de Lavradio, III, p. 283.

[14] A carta foi publicada em O Periódico dos Pobres do Porto. Ver Apontamentos para a História da Revolução do Minho em 1846 ou da Maria da Fonte…, Braga, 1883, p. 84.

[15] Idem, p. 76.

[16] Idem, p. 169

[17] Idem, p. 167

[18] Idem, p. 170

[19] Idem, p. 169

[20] José Maria Grande, Joaquim Filipe de Soure, João Baptista de Almeida Garrett, Joaquim António de Aguiar; José Inácio Pereira Derramado; J. Gomes da Silva Sanches; A.R. Lopes Branco.

[21] Em 20 de abril, Costa Cabral vai ao parlamento relatar os acontecimentos. Chamava-lhe revolta, onde setembristas e miguelistas faziam grave ameaça à fazenda dos cidadãos, às instituições e ao trono. Consegue a suspensão das garantias e o estabelecimento do regime de lei marcial para os crimes de sedição. Na câmara dos pares, Sá da Bandeira atacou de tal maneira o governo que foi proibida a distribuição do relato da sessão. Na altura, o conde do lavradio abandonou as Cortes, considerando que estava morta a liberdade pelo facto das câmaras estarem coatas. Em 21 de abril, o governo mandava para o Porto José Bernardo da Costa Cabral, a título de comissário com poderes extraordinários sobre todas as autoridades do Norte. Chegava o zé dos cónegos, também dito vice-rei do Norte. Mas a insurreição transformava-se em movimento político, com os partidos da oposição a tentarem aproveitar-se do processo. Primeiro, os miguelistas com o Padre Casimiro; depois, os setembristas, com as guerrilhas de Bento Gomes e Monte Alverne. Os revoltosos vão conseguindo apoio da tropa.  A guerrilha alastra no Minho e tem recontros militares com Vivas a D. Miguel, Morte à rainha Morte aos Cabrais. Segue-se Trás-os-Montes. Em Vila Real guerrilheiros ocuparam a cidade. Constituída a primeira Junta Governativa sob a presidência de D. Fernando de Sousa Botelho, fidalgo da Casa de Mateus. Governador Civil fugiu para Chaves onde estacionava o Visconde de Vinhais. Mas em 11 de maio, Vinhais passou para os revoltosos. Em 20 de maio dava-se a queda do Governo. E os Cabrais partiram para o exílio espanhol.

[22] CAMILO CASTELO BRANCO, Maria da Fonte, 1885, p. 79. Ver CAMILO CASTELO BRANCO, Memórias do Cárcere, 1º volume, Porto, 1862. Camilo, de família miguelista, chegou mesmo a participar em guerrilhas deste teor, quando era estudante de Coimbra e foi mobilizado pela coluna do guerrilheiro Milhundres, que conquistou Penafiel. Em setembro de 1847 foi, entretanto, agredido por um caceteiro do governador cabralista de Vila Real, José Cabral Teixeira de Morais, por não ter tirado o chapéu a este. Interroga-se, entretanto: Porventura, devo culto ao déspota, porque vejo um cacete que pode espancar-me?. É que o despotismo não tem direitos: – tem a força bruta; e mal daquele que não pode contrapor-lhe o ferro com o ferro, o cacete com o cacete, e o sentimento brutal com a degradação do raciocínio. Depois que o vislumbre de humanidade se apagou no coração, quebrados estão os vínculos sociais, e rotos os aços de parentesco com os outros homens: a sensibilidade torna-se ferro – o semblante de horror; e de afronta as vozes, o ar, as ideias, e o nome. Ninguém há que não sinta a aspereza do despotismo, ao roçar-se por esse cadáver despojado de moralidade, de impressões dolorosa e de consciência do bem; aí não há mais que vitupérios, calúnias, e um fragmento do mundo irracional, que nos ensina a conhecer as galas da razão. In Delitos da Mocidade, Porto, 1889.

[23] Ver Memórias do Conde de Lavradio, III, pp. 272-273.

[24] Fronteira, VIII, p. 285.

[25] Fronteira, VIII, p. 289.

[26] Fronteira, VIII, p. 288

[27]CAMILO CASTELO BRANCO, in Eco Popular de 1 de fevereiro de 1849, apud Memórias, p. 73.

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