SOBRE

manuel alegre

De 6 de fevereiro de 1922 a 15 de novembro de 1923 (647 dias – Cerca de 21 meses e meio, quase dois anos).

31º governo republicano. 17º governo pós-sidonista[1].

  • Presidente acumula o interior. A partir de 21 de julho de 1923 assume interinamente a pasta da guerra. Tinha sido ministro do fomento do governo de Afonso Costa, de 9 de janeiro de 1913 a 9 de fevereiro de 1914; ministro do fomento no governo de Afonso Costa de 29 de novembro de 1915 a 15 de março de 1916; ministro do trabalho e da previdência social no ministério da União Sagrada, presidido por António José de Almeida, de 16 de março de 1916 a 25 de abril de 1917; ministro das finanças no governo de Sá Cardoso, de 3 a 15 de janeiro de 1920. Será presidente e ministro da guerra, de 1 de julho a 1 de agosto de 1925; presidente e ministro do interior entre 17 de dezembro de 1925 a 28 de maio de 1926;

  • Na justiça e cultos, João Catanho de Meneses. Antigo ministro da justiça dos governos de José de Castro, de 19 de junho a 29 de novembro de 1915, na qualidade de independente; e Afonso Costa de 29 de novembro de 1915 a 15 de março de 1916. Voltará à pasta com Rodrigues Gaspar, de 6 de julho a 22 de novembro de 1924; e António Maria da Silva, entre 17 de dezembro de 1925 e 30 de maio de 1926;
  • Nas finanças, Albano Augusto de  Portugal Durão (até 26 de agosto) e Vitorino Máximo Carvalho Guimarães (desde 14 de setembro). Durão foi ministro da agricultura de 4 a 19 de maio de 1921 no governo de Bernardino Machado. Será ministro dos negócios estrangeiros no governo de António Maria da Silva, de 1 de julho a 1 de agosto de 1925. Guimarães foi ministro das finanças dos governos de José de Castro (de 19 de junho a 29 de novembro de 1915) e de Cunha Leal (de 16 de dezembro de 1921 a 6 de fevereiro de 1922). Será presidente do ministério e ministro das finanças de 15 de fevereiro a 1 de julho de 1925;
  • Na guerra, o general António Xavier Correia Barreto. Tinha sido ministro da guerra do governo provisório, de 5 de outubro de 1910 a 3 de setembro de 1911, e no governo de Duarte Leite, entre junho de 1912 e janeiro de 1913;
  • Na marinha, Vítor Hugo de Azevedo Coutinho;
  • Nos negócios estrangeiros, José Maria Vilhena Barbosa de Magalhães. De 2 a 28 de março de 1922 e de 26 de agosto a 12 de outubro do mesmo ano foi substituído interinamente por Azevedo Coutinho. Tinha sido ministro da justiça de Vítor Hugo de Azevedo Coutinho, de 12 de dezembro de 1914 a 24 de janeiro de 1915; e ministro da instrução de Afonso Costa, de 25 de abril a 10 de dezembro de 1917;
  • No comércio e comunicações, Eduardo Alberto Lima Basto, até ao dia 18 de outubro de 1822, quando foi substituído interinamente por Vasco Borges, até 30 de novembro de 1922;
  • Nas colónias, Alfredo Rodrigues Gaspar. Foi ministro das colónias de Azevedo Coutinho (de 12 de dezembro de 1914 a 25 de janeiro de 1915); de José de Castro (de 22 de julho a 29 de novembro de 1915); de Afonso Costa (de 29 de novembro de 1915 a 15 de março de 1916); de Sá Cardoso (de 30 de junho de 1919 a 3 de janeiro de 1920). Será presidente do ministério, acumulando o interior, de 6 de julho a 22 de novembro de 1924;
  • Na instrução pública, Augusto Pereira Nobre. Tinha sido ministro da instrução de António Maria da Silva de 26 de junho a 19 de julho de 1920; e de Liberato Pinto, de 30 de novembro de 1920 a 2 de março de 1921;
  • No trabalho, Vasco Borges. Foi ministro da instrução de António Maria Baptista/ Ramos Preto (8 de março a 26 de junho de 1920; também interino dos estrangeiros de 30 de abril a 26 de junho); ministro do comércio no governo outubrista de Maia Pinto (novembro e dezembro de 1920). Neste gabinete será também ministro do comércio (de 30 de novembro a 7 de dezembro de 1922). Será, depois, ministro dos negócios estrangeiros de Domingos Pereira (de 1 de agosto a 17 de dezembro de 1925); e António Maria da Silva (de 17 de dezembro de 1925 a 30 de maio de 1926). Apoiará o 28 de maio e colaborará com Salazar;
  • Na agricultura, Ernesto Júlio Navarro.

Em 30 de novembro de 1922:

  • General Ernesto Maria Vieira da Rocha na guerra, até 7 de dezembro. Em vez de Correia Barreto. Voltará à pasta da guerra com Rodrigues Gaspar, de 6 de julho a 22 de novembro de 1924; Vitorino Guimarães, de 15 de fevereiro a 21 de abril de 1925; e Domingos Pereira, de 1 de agosto a 30 de outubro de 1925. Ministro das colónias no mesmo governo, de 30 de outubro  de 1925 a 17 de dezembro de 1925; e, de novo, ministro das colónias com António Maria da Silva, entre 17 de dezembro de 1925 a 30 de maio de 1926;

  • Domingos Leite Pereira nos estrangeiros em vez de Barbosa Magalhães;
  • Vasco Borges no comércio, em vez de Lima Basto. Borges já ocupava a pasta interinamente desde 18 de outubro;
  • Leonardo José Coimbra na instrução, em vez de Augusto Pereira Nobre. Tinha já assumido tal pasta no governo de Domingos Pereira, de 30 de março a 30 de junho de 1919;
  • António Maria da Silva na agricultura, em vez de Ernesto Júlio Navarro. Até 9 de janeiro de 1923.

Em 7 de dezembro de 1922:

  • António Abranches Ferrão (independente) na justiça, em vez de João Catanho de Meneses. Tinha já sido ministro da justiça com Cunha Leal, de 16 de dezembro de 1921 a 6 de fevereiro de 1922; será ministro da instrução de Rodrigues Gaspar, de 6 de julho a 22 de novembro de 1924;
  • Fernando Augusto Freiria (independente) na guerra (até 21 de julho de 1923, data em que essas funções passaram a ser interinamente assumidas por António Maria da Silva);
  • Fernando Brederode (independente) no comércio, até 9 de janeiro de 1923. Tinha sido ministro da marinha, como popular, nos governos de António Maria da Silva (1920) e Bernardino Machado (1921);
  • Leonardo Coimbra acumula a instrução com a interinidade do trabalho, donde sai Vasco Borges.

Em 9 de janeiro de 1923:

  • Abel Fontoura da Costa na agricultura, em vez de António Maria da Silva. Passa para a pasta da marinha a partir de 13 de agosto;

  • João José da Conceição Camoesas na instrução, em vez de Leonardo Coimbra. Camoesas, médico, voltará a tal pasta no governo de Domingos Pereira, de agosto a dezembro de 1925;
  • Alberto da Cunha Rocha Saraiva (independente) no trabalho, em vez da interinidade de Leonardo Coimbra[32]. Este professor de direito público tinha sido ministro da instrução pública de Cunha Leal, de 16 de dezembro de 1921 a 6 de fevereiro de 1922.

Em 6 de julho de 1923:

  • Abel Fontoura da Costa substitui Azevedo Coutinho na pasta da marinha, a título interino. Será efectivo a partir de 13 de agosto.

Em 21 de julho de 1923:

  • António Maria da Silva substitui Fernando Freiria na guerra.

Em 13 de agosto de 1923:

  • Francisco Gonçalves Velhinho Correia substitui Vitorino Guimarães nas finanças, até 24 de outubro de 1923. Como democrático, tinha sido ministro do comércio de António Granjo, de 26 de junho a 19 de julho de 1920;

  • Abel Fontoura da Costa assume a efectividade na marinha e sai da agricultura;
  • Joaquim António de Melo e Castro Ribeiro na agricultura, em lugar de Abel Fontoura da Costa[53].

Em 24 de outubro de 1923:

  • João Teixeira de Queirós Vaz Guedes nas finanças, em lugar de Velhinho Correia.

Fevereiro de 1922

Depois de Afonso Costa recusar formar governo, surge uma experiência com uma certa estabilidade, liderada por António Maria da Silva que presidirá a três governos sucessivos, entre 6 de fevereiro de 1922 e 15 de novembro de 1923.

Costa é convidado telegraficamente tanto pelo diretório do partido democrático como por António José de Almeida. Responde logo em 4 de fevereiro, recusando. Os liberais declaram então que estão disponíveis para integrarem um governo de concentração presidido por Afonso Costa.

Constituído o governo em 6 de fevereiro.

O novo governo manteve o esquema anterior, continuando o exército a cercar Lisboa.

Tentativa de golpe outubrista abortada em 18 de fevereiro. Governo instala-se em Caxias e Presidente da República em Cascais. Unidades militares de Lisboa são postas de prevenção[2].

Congresso reabre em 23 de fevereiro. Leitura da declaração ministerial.

Março de 1922

Em março são retiradas a artilharia e as metralhadoras pesadas à GNR, ao mesmo tempo que se diminuem os seus efetivos (de 14 341 homens para 9 627) com dispersão pela província, transformando-a em guarda rural. A GNR passara de 4 575 homens, em 1919, para 14 341 em 1921. Tinha um grupo de três baterias de artilharia de campanha e um batalhão de metralhadoras pesadas[3]. Muda também o corpo de marinheiros para Vila Franca. Reforma da GNR é promulgada pelo Presidente da República em 2 de março e publicada no dia 13. Deportação de Liberato Pinto, Feliciano Costa (sidonista) e Xavier Pereira (radical).

O drama agora é o do alta dos preços (em 1922 cerca de 50%).

No dia 20 de março, o governo apresenta na Câmara dos Deputados proposta para a liquidação dos Transportes Marítimos do Estado, criados em novembro de 1917[4].

Agatão Lança na Câmara dos Deputados, em 28 de março, critica a política de marinha da República: tendo havido mais de 37 ministros da marinha, não há mais de 6 ou 7 que sejam da classe. Todos estes ministros paisanos têm clientelas para atender e fazem decretos transformando a legislação da marinha num caos.

No dia 30 de março, partida de Gago Coutinho e Sacadura Cabral que chegam ao Rio de Janeiro no dia 26 de maio. O nº 13 da Seara Nova, saído em 12 de maio, é inteiramente dedicado à  viagem[5].

Portaria do ministro Vasco Borges suspende as obras dos bairros sociais. Desde 1919 que se tinham gasto 7 600 contos no empreendimento e apenas estavam meias construídas 86 casas no Arco do Cego, mas sem rede de esgotos.

Abril de 1922

Greve geral de três dias. São presos 200 operários. Era a primeira ação de envergadura dos sindicatos, depois da greve dos ferroviários de setembro a dezembro de 1920[6].

O jornal A União do CCP, de 3 de abril, diz que os deputados monárquicos devem abster-se de apresentarem projetos sobre os católicos, sem prévia consulta do CCP, a única instância partidária autorizada pelos bispos[7].

No dia 17 de abril, pelo Pacto de Paris, unificavam-se os monárquicos liberais e legitimistas, através de Aires de Ornelas e D. Lourenço Vaz de Almada. D. Duarte Nuno reconhece assim D. Manuel II. Os integralistas vão discordar frontalmente do pacto. Apoio de O Dia e de O Correio da Manhã[8].

Proposta de lei sobre novos impostos em 28 de abril[9].

Surge a chamada lei garrote que cria um quadro de adidos e suspende novas entradas de pessoal na administração pública por cinco anos[10].

Em 29 e 30 de abril realiza-se o segundo congresso do Centro Católico, onde Salazar faz um discurso de fundo criticando José Fernando de Sousa, Nemo, o representante dos católicos monárquicos. salazar admite que os católicos aceitem cargos públicos. Foi confirmada a orientação dada por Lino Neto ao grupo[11]. O próprio jornal O Mundo enaltece o comportamento leal dos católicos para com a República[12]. Segue-se uma prolongada polémica de católicos monárquicos com os centristas nos jornais. A Época em 4 de maio ataca o CCP. Nesta senda Nemo em junho, julho, agosto e setembro faz um ataque aos centristas, a que responde Salazar de setembro de 1922 a fevereiro de 1923. Contra o CCP, no mesmo jornal, escreve Domingos Pinto Coelho, a que responde Dinis da Fonseca em 20 de agosto de 1922. Atacando a linha de Lino Neto, surgem também artigos de Alfredo Pimenta em O Dia e de Paiva Couceiro em O Correio da Manhã[13].

Maio de 1922

Integralistas em 5 de maio discordam frontalmente do Pacto de Paris de 17 de abril. Interrompem a publicação do jornal A Monarquia, suspendem a atividade partidária e declaram que vão apenas dedicar-se ao trabalho de doutrinação, pelo que vão publicar a segunda série da revista Nação Portuguesa[14].

Decreto de 8 de maio, de Vasco Borges sobre o horário de trabalho[15].

Descoberto arsenal de bombas e dinamite no Porto em 30 de maio.

Congresso da Federação das Juventudes Católicas em Coimbra. Mário de Figueiredo é eleito presidente, com Alberto Dinis da Fonseca na vice-presidência[16].

Junho de 1922

Gago Coutinho chega ao Rio de Janeiro em 17 de junho.

Em 27 de junho a Associação Industrial Portuguesa assume uma posição frontal contra a política fiscal de Portugal Durão, principalmente contra o aumento da contribuição industrial, de 7% para 10%, no que considera uma estatização da economia. Critica também as medidas tomadas em favor da agricultura alentejana[17].

Julho de 1922

Luís Gama, em 7 de julho, em O Século, em representação da lavoura, clama pelo fim imediato do pão político, defendendo um sério controlo do preço dos adubos[18].

Bernardino Machado publica um manifesto intitulado A Crise em 20 de julho.

Decreto de 22 de julho obriga os exportadores a entregar a um banco as cambiais, ficando metade reservadas para o Estado[19].

Pela lei nº 1294 de 31 de julho termina o regime do pão político, tomando-se medidas no sentido do regresso ao protecionismo face aos produtores nacionais de trigo.

Greves dos têxteis na Covilhã.

Agosto de 1922

Agitação popular contra os novos tipos de pão, com assaltos a padarias, em 5 de agosto. Mobilização dos sindicatos em Lisboa. CGT lança apelo no sentido da defesa de um tipo único de pão. Durante dez dias vai haver escaramuças, com alguns mortos. Os tumultos ocorrem em Lisboa, Barreiro, Portalegre, Santarém, Évora, Faro, Olhão, Coimbra e Porto[20].

Em 15 de agosto, reunião entre António Maria da Silva e os sindicalistas. Libertação dos 500 grevistas presos. Presidente do ministério promete rever o regime do pão, nomeadamente garantindo um novo tipo de pão de terceira. Mas as greves continuam com assaltos a padarias durante o mês de agosto e o governo vai cedendo gradualmente[21].

Em 26 de agosto, António José de Almeida parte para uma viagem oficial ao Brasil (chega ao Rio de Janeiro em 17 de setembro e regressa a Lisboa no dia 11 de outubro). Segue no paquete mercante Porto, por falta de condigno navio da marinha de guerra. Mas várias avarias tornam a viagem atribulada, nomeadamente quando se descobriu que em vez de carvão havia pedras no navio por causa de uma sabotagem. A chegada estava prevista para antes da data histórica de 7 de setembro. Almeida já regressa a bordo do paquete inglês Arlanza. O resto da comitiva, com Gago Coutinho e Sacadura Cabral vêm no Porto que chega a Lisboa a 26 de outubro[22].

Setembro de 1922

Rebentam bombas no Porto (2 de setembro).

Greves da construção civil, dos metalúrgicos e dos arsenalistas em 3 de setembro[23].

Assassinado Sérgio Príncipe, líder da Confederação Patronal Portuguesa em 8 de setembro.

Lei nº 1346 sobre a liquidação dos Transportes Marítimos do Estado em 9 de setembro. Alienação dos navios autorizada por lei de 10 de abril de 1924, decorreu em 1925 e 1926. A frota começou com a 242 441 toneladas apreendidas, mas, no decorrer da guerra, alugaram-se 80% aos ingleses, através da casa Furness Witty & Cª. Esta subalugou os navios a franceses e norte-americanos. 16 regressaram em 1920. 2 em 1921. Há cerca de 4 milhões de libras de prejuízos com estas operações. Acrescem os sucessivos desfalques, a má gestão, as dívidas das agências, os maus contratos de fornecimento de carvão, os atrasos no pagamento dos salários e o não pagamento dos serviços prestados por vários ministérios.

O centrista católico Dinis da Fonseca, em 17 de setembro, declara: não somos contrários ao Parlamento, mas à sua forma atual[24].

Promulgada nova lei fiscal em 21 de setembro, criando um imposto de transações, aquilo que então se chamou um imposto de vida cara (Marques Guedes[25]).

Publicada pastoral coletiva do episcopado, em 29 de setembro, sobre as desinteligências que ameaçam dividir o campo católico, declarando-se confiança na direção do CCP[26].

Inúmeras medidas financeiras e sobre a questão das subsistências.

Outubro de 1922

III Congresso Operário Nacional em 1 de outubro[27].

Assaltos aos jornais  A Palavra e Correio da Manhã em 7 de outubro.

Em 21 de outubro surge o decreto nº 8 444 sobre os lucros líquidos excessivos.

Criada a Inspeção de Câmbios[28].

Em 26 de outubro, regresso a Lisboa de Gago Coutinho.

Começa a grande marcha fascista sobre Roma em 28 de outubro. Mussolini, primeiro ministro logo em 31 de outubro.

Novembro de 1922

Agitação em Lisboa em 7 de novembro. Mortos e feridos.

Desordens em Ponta Delgada no final de novembro, por ocasião das eleições municipais.

Segunda fase do governo. Logo a seguir, na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, António Maria da Silva vê o seu candidato, João Luís Ricardo, derrotado, vencendo Sá Cardoso[29].

Dezembro de 1922

Congresso dos trabalhadores rurais em Évora, em 16 de dezembro.

Criada a URSS em 30 de dezembro.

António Maria da Silva elogia António Lino Neto do CCP[30].

Terceira fase do governo. Os que pouco antes haviam derrotado o candidato de António Maria da Silva não se conjugam para derrubar o governo. José Domingues dos Santos continua a ser o líder dos democráticos no parlamento[31].

Janeiro de 1923

Liberais e reconstituintes na oposição, dizem-se, então bloco republicano.

Prosseguem os conflitos com a Igreja. Leonardo Coimbra, Ministro da Instrução Pública, entre 30 de novembro de 1922 e 9 de janeiro de 1923, é obrigado a demitir-se por pressão da ala jacobina quando tenta nova legislação estabelecendo que o ensino será neutral em matéria religiosa, o que permitiria a reinstalação do ensino religioso. Leonardo é apoiado por Raul Brandão, Guerra Junqueiro e Teixeira de Pascoaes[33]. Ao facto não é estranha a atitude colaboracionista do CCP com os trabalhos parlamentares[34].

António José de Almeida impõe o barrete cardinalício ao novo Núncio Apostólico, Monsenhor Acquille Locatelli, em 4 de janeiro. Choques entre revolucionários e polícias em Lisboa e no Porto.

Apresentado orçamento para 1923-1924 em 15 de janeiro[35].

Nos começos do ano de 1923 recrudescem os atentados bombistas.

Fevereiro de 1923

Os ânimos exaltam-se com o julgamento dos outubristas no Tribunal de Santa Clara (de 24 de novembro de 1922 a 1 de junho de 1923). Na sessão de 2 de fevereiro, um dos réus proclama: o meu crime foi ser revolucionário. Intervenção dos advogados de defesa Cunha e Costa, Ramada Curto e Amâncio Alpoim[36].

·Na sessão do dia 9, Ramada Curto considera que a nação e todos os poderes do estado vivem hoje à sombra da revolução de 19 de outubro[37].

Em 5 de fevereiro os diretórios dos partidos liberal e reconstituinte decidem organizar novo partido conjunto[38].

Em 17 de fevereiro é publicado o manifesto do novo partido nacionalista, redigido por Júlio Dantas[39].

No dia 19, Álvaro de Castro comunica oficialmente ao Congresso a constituição do novo partido[40].

Bombas em Lisboa por causa do regime do horário de trabalho dos metalúrgicos, em 27 de fevereiro.

Março de 1923

As moagens compram O Século, nomeando Cunha Leal com diretor (março).

Manifesto da Seara Nova defende uma união cívica à margem das querelas partidárias.

Nova pauta aduaneira em 27 de março.

Greves dos metalúrgicos e padeiros.

Abril de 1923

Congresso do partido democrático. Contra a linha oficial, as candidaturas de Vitorino Guimarães e José Domingues dos Santos. Chega a propor-se a criação de uma religião laica visando substituir o catolicismo.

Bombas em Lisboa na rua da Imprensa Nacional (25 de abril)

Bombas em barbearias na Rua Augusta e na calçada do Combro (27 de abril).

Greves dos corticeiros, dos trabalhadores das moagens e dos têxteis[41].

Maio de 1923

Lei nº 1424 estabelece o chamado empréstimo rácico[42].

Carta de Pio XI de 13 de maio apoia a pastoral coletiva do episcopado português que apoiava o CCP[43].

Junho de 1923

Leitura da sentença dos implicados na noite sangrentaem 1 de junho[44].

Novo contrato entre o Estado e o Banco de Portugal. Aumento da circulação fiduciária relacionado com o empréstimo[45].

De 9 a 11 de junho, primeiro congresso do novo Partido Radical. Aliança entre outubristas, como Procópio de Freitas, Camilo de Oliveira, Orlando Marçal, António Arez e Veiga Simões, e os restos do partido popular. O grupo começou por chamar-se Partido Republicano de Fomento Nacional[46].

Carmona pede escusa do cargo de promotor do tribunal de Santa Clara e regressa ao comando da 4ª região militar em 14 de junho[47].

Nacionalistas regressam ao parlamento, depois de um mês de ausência, em 22 de junho de 1923.

A Batalha alerta para o perigo de uma conspiração fascista, em 29 de junho[48].

Julho de 1923

Cunha Leal, enquanto sublíder dos nacionalistas, critica o governo em 4 de julho.

Ataques da Imprensa da Manhã e de A Pátria à política dos ministros das finanças, Vitorino Guimarães, e da agricultura, Abel Fontoura da Costa[49].

Morte de Guerra Junqueiro em 7 de julho[50].

Partido democrático, por influência de Afonso Costa, apresenta a candidatura de Manuel Teixeira Gomes à presidência da república, em 11 de julho.

Demite-se o ministro da guerra Fernando Freiria em 16 de julho. Conflito com o oficial avidor António Maia que também era deputado[51].

Agosto de 1923

Votada favoravelmente moção de confiança em 2 de agosto[52].

Em 3 de agosto, cerca de um milhar de manifestantes em Lisboa, numa movimentação das juntas de freguesia contra o inquilinato, apoiada pela CGT.

Em 6 de agosto Teixeira Gomes é eleito presidente da República contra a candidatura de Bernardino Machado, apoiada pelos nacionalistas. Afonso Costa que tinha prometido apoiar Bernardino, acabou por inverter a sua posição naquilo que foi considerada uma incursão afonsista, vinda de Paris.

Novo regime ceralífero em 16 de agosto. O governo põe fim, de forma definitiva, ao regime do pão político. Aumento do preço do pão de 3ª em cerca de 50%- Aumento do preço do trigo à produção. Seguem-se 30 agitados dias de protestos, promovidos pela União Sindical de Lisboa, dirigida por Manuel de Figueiredo[54].

Comício promovido pela CGT contra o fim do pão político. Pró-soviéticos acusam de traição a direção da central[55]. Decretada a greve geral. Bombas em Lisboa, Beja, Alhos Vedros e Montijo. A maioria das greves cessa em 25 de agosto. No dia 28, já se retoma o trabalho na generalidade[56].

Em 23 de agosto surge o primeiro número da revista Ideia Nova, dirigida por Raul de Carvalho, também diretor de A Ditadura.

Em A Batalha de 29 de agosto já se critica o pão político que só avantajava a moagem e alguns intermediários, defendendo-se a importação livre de trigo exótico[57].

Setembro de 1923

Duplicadas as dotações para o Fundo de Fomento Agrícola em 7 de setembro.

No dia 12 de setembro, dá-se uma explosão de uma bomba que estava a ser fabricada na sede do Partido Radical, no Porto, morrendo três militantes.

Em 26 de setembro, o Congresso é extraordinariamente convocado para tratar de problemas financeiros[58].

Tumultos na Aldeia da Ponte, com intervenção da GNR. Cinco mortos (28 de setembro).

Como dizia Ezequiel de Campos em 26 de setembro, em O Primeiro de Janeiro, o governo pôs tabelas a tudo; andou a farejar os negócios ilícitos; proibiu o jogo; e fez o pão político. Mas a vida teimou em encarecer, a libra a subir em escudos, e a gente em concorrer às festas e romarias, como nunca.

António Maria da Silva propões a criação de uma Comissão Central de Economias e de uma Repartição de Pessoal Disponível[59].

Outubro de 1923

Teixeira Gomes desembarca em Lisboa, vindo de Londres, em 3 de outubro.

No dia 5 de outubro, Teixeira Gomes tomava posse como Presidente da República[60].

Em 21 de outubro, Lino Neto declara que o centro não é um partido político, embora represente uma influência de natureza política. Não pretendemos instalar-nos no poder nem confundimos legislação com regime[61].

Cunha Leal ataca o governo por este não satisfazer as reivindicações dos católicos, no que é apoiado por Moura Pinto[62].

Rocha Martins acusa figuras democráticas de continuarem a proteger José Júlio Costa, o assassino de Sidónio Pais[63].

Novembro de 1923

Votada moção de confiança ao governo por 43-42 e António Maria da Silva apresenta a demissão[64].

No dia 6 de novembro chega a Lisboa Afonso Costa: não trago ódios. É indispensável a união de todos. Apesar de convidado, recusa formar governo no dia 7. Os nacionalistas recusam, então, participar num governo presidido por Costa. Convidado Catanho de Meneses, acaba por desistir por não conseguir agrupar democráticos e independentes[65].

Entre 10 e 12 de novembro realiza-se o I Congresso do PCP. Eleito um comité central dominado por Carlos Rates. Foi apresentada uma tese, não discutida, sobre a venda das colónias à Inglaterra para se resolver o défice do Estado[66].

Mudança de orientação em A Batalha, com abandono das teses anarco-sindicalistas e do mito da greve geral, a partir de 10 de novembro. Em vez de forças vivas, passa a usar-se a expressão burguesia[67].

[1] Fernando Tomás Rosa Gouveia, Orgânica Governamental…, p. 52 (36º ministério; 15º do mandato de António José de Almeida, até 30 de novembro de 1922), p. 53 (37º ministério, 16º do mandato presidencial de António José de Almeida, de 30 de novembro a 7 de dezembro de 1922) e p. 54 (38º ministério; 17º do mandato presidencial de António José de Almeida, de 7 de dezembro de 1922 a 15 de novembro de 1923); Damião Peres, pp. 325 ss.; Cunha Leal, II, pp. 354 ss.; Oliveira Marques, p. 732.

[2] Damião Peres, p. 325.

[3] Rui Ramos, p. 622.

[4] Damião Peres, p. 347.

[5] Damião Peres, pp. 330 ss.

[6] Fernando Medeiros, p. 252.

[7] Manuel Braga da Cruz, p. 286.

[8] Damião Peres, p. 347.

[9] Damião Peres, p. 348.

[10] Ruivo, p. 60.

[11] Franco Nogueira, I, pp. 242 ss.; Manuel Braga da Cruz, pp. 287 ss.

[12] Manuel Braga da Cruz, p. 312.

[13] Manuel Braga da Cruz, pp. 290 ss.

[14] Damião Peres, p. 347.

[15] Fernando Medeiros, p. 253.

[16] Manuel Braga da Cruz, p. 252.

[17] Fernando Medeiros, pp. 253-254.

[18] Fernando Medeiros, p. 254.

[19] Alberto Xavier, p. 190.

[20] Fernando Medeiros, p. 255.

[21] Fernando Medeiros, pp. 255-256.

[22] Damião Peres, p. 344.

[23] Fernando Medeiros, p. 257.

[24] Manuel Braga da Cruz, p. 313.

[25] ARMANDO MARQUES GUEDES, op. cit., p. 140

[26] Manuel Braga da Cruz, p. 300.

[27] Alexandre Vieira, p. 157.

[28] Alberto Xavier, p. 190.

[29] Damião Peres, p. 350.

[30] Manuel Braga da Cruz, p. 300.

[31] Damião Peres, p. 351.

[32] Damião Peres, p. 352.

[33] Ver Pabón, pp. 518-519.

[34] Manuel Braga da Cruz, p. 309.

[35] Damião Peres, pp. 353-356

[36] Leopoldo Nunes, Carmona, p. 63.

[37] Leopoldo Nunes, p. 64.

[38] Damião Peres, pp. 353-354.

[39] Damião Peres, p. 353.

[40] Damião Peres, p. 354.

[41] Fernando Medeiros, pp. 277-278.

[42] Marcello Caetano, p. 337; Diogo Pacheco de Amorim, II, pp. 111 e 113-114; Damião Peres, p. 357.

[43] P. Miguel de Oliveira, p. 393.

[44] Damião Peres, pp. 354-355.

[45] Diogo Pacheco de Amorim, II, pp. 114-115 e 117.

[46] Damião Peres, p. 354.

[47] Leopoldo Nunes, p. 65.

[48] António José Telo, I, p. 257.

[49] Fernando Medeiros, p. 283.

[50] Damião Peres, p. 358.

[51] Damião Peres, p. 358.

[52] Damião peres, p. 358.

[53] Damião Peres, p. 360.

[54] Fernando Medeiros, p. 278.

[55] Fernando Medeiros, p. 279.

[56] Fernando Medeiros, p. 285.

[57] Fernando Medeiros, p. 285.

[58] Damião Peres, p. 362.

[59] Ruivo, p. 60.

[60] Damião Peres, p. 363.

[61] Manuel Braga da Cruz, p. 325.

[62] Manuel Braga da Cruz, p. 313.

[63] Jesus Pabón, p. 363.

[64] Damião Peres, p. 362.

[65] Damião Peres, p. 363; Leopoldo Nunes, p. 68.

[66] António José Telo, I, p. 332.

[67] Fernando Medeiros, pp. 291 e 289.

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