Canadiano, nascido em Toronto. Doutorado em Harvard. Professor na Universidade de Chicago desde 1947.
Autoridade na distribuição dos valores
Considera que a vida política consiste em ações relacionadas com a autoridade na distribuição dos valores (the political life consists of those actions related to the authoritative allocation of values) e o sistema político aparece como um complexo de atividades, dotado de autonomia (a system of interrelated activities influence the way in which authoritative decisions are formulated and executed for a society)[1]. Observa que a luta pelo poder não descreve o fenómeno essencial da vida política; ela refere-se apenas a um aspeto relativamente importante, mas que permanece, apesar de tudo secundário, concluindo que o poder é apenas uma das variáveis significativas. Tendo apenas isto em atenção, omite-se uma dimensão também muito importante da vida política, isto é, a sua orientação relativamente a outros fins para além do poder. A vida política não consiste apenas numa luta pelo poder.
Autonomia do sistema político
Procura a autonomia do sistema político a partir da ideia de comunicação, entendida como o processo de converter a informação em poder. O sistema político é compreendido como um sistema de distribuição autoritária de valores, como um conjunto de interacções pelas quais se efectua a distribuição (allocation) autoritária (authoritative) de valores para uma sociedade. A vida política aparece como a complex set of a process through which certain kinds of inputs are converted into the type of outputs we may call authoritative policies, decisions and implementing actions. E seria este processo funcional da distribuição ou atribuição de valores, isto é, de objetos pelo mesmo sistema valorizados, distribuição marcada pela autoridade, pela imperatividade, que constituiria o traço distintivo do sistema político. Com esta perspetiva sistémica, a ciência política volta assim a ganhar autonomia face à sociologia e, pela via funcionalista, regressam temas fundamentais como os dos valores e e da autoridade. Da mesma forma, se considera que a vida política tem a ver com a unidade mais inclusiva, não podendo confundir-se com outros sistemas parapolíticos. Na linha do behaviorismo e de Parsons, coloca como noção fulcral da respetiva análise a ideia de ambiente (environment), considerando que o sistema político é um sistema de comportamentos incluído num dado ambiente, um sistema que é influenciado pelo ambiente onde se insere, mas que também responde ou reage a esse ambiente.
Ambiente
Existiria tanto um intra-societal environment, um ambiente interior, como um extra-societal environment, um ambiente exterior. O ambiente interior seria o da sociedade global, entendida como a soma do sistema político propriamente dito como o dos sistemas não políticos, mas situados dentro do circulo da sociedade global, como o sistema ecológico, o sistema biológico, o sistema psicológico (personality system) e os sistemas sociais, incluindo nestes últimos, o sistema cultural, a estrutura social, sistema económico, o sistema demográfico e outros subsistemas. O ambiente exterior seria o ambiente que cerca a sociedade global, enumerando Easton três elementos deste ambiente: international political systems, international ecological systems e international social systems. O ambiente total do sistema político seria assim a soma do ambiente interior com o ambiente exterior.
Caixa negra
Já o sistema político propriamente dito funcionaria como uma caixa negra produtora de decisões e de ações (outputs), que teria como entradas, como inputs, tanto as exigências (demands) como os apoios (support). Aqui, Easton, na linha de Parsons, sofre as influências das teses de Wassily Leontief, anterior Prémio Nobel da Economia, que havia desenvolvido a análise sistémica dos inputs-outputs, perspetivando o sistema como algo de complexo que está em fluxo constante, em perpétuo movimento, dado que o output vai influenciar o input.
Inputs
O apoio traduz-se na disposição de um actor A relativamente a B, quando A atua em favor de B ou quando se orienta favoravelmente face a B, podendo B ser uma pessoa, um grupo, um fim, uma ideia ou uma instituição[2]. Já a exigência é definida como a expressão da opinião que uma atribuição dotada de autorida, respeitante a um domínio particular, deve ou não ser feita pelos que para tal são encarregados[3].
Outputs
Os outputs constituiriam a distribuição autoritária de valores, pelos quais um sistema político diminuiria o peso das exigências que lhe são dirigidas ou maximizaria os apoios de que dispõe.
Retroação
Dentro da caixa negra do sistema, far-se-ia a retroação da informação, a conversão das demands em outputs, através das chamadas autoridades. Pela retroação um sistema político pode assim ajustar a sua atividade tendo em conta os resultados da sua atividade passada. Ela aparece como um conjunto de processos que permite ao sistema controlar e regularizar as perturbações que se façam sentir.
Revolução pós-behaviorista
Em 1969, vem falar na necessidade de uma postbehavioral revolution nos domínios da ciência política, onde fosse possível conciliar os métodos quantitativos e o apelo aos factos da revolução comportamentalista, com os dados qualitativos da teoria política e os valores, uma revolução que não seria rejeição do contributo behaviorista para o alargamento da base cogniscitiva da ciência política, mas que teria de aliar, a tais métodos quantitativos, o qualificativo de uma teoria geral própria.
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The Political System. An Inquiry into the State of Political Science. Nova York, Alfred A. Knopf, 1953.
- «The Perception of Authority and Political Change» In Friedrich, Carl Joachim, ed., Nomos I - Authority, Cambridge, Massachussetts, Harvard University Press, 1958.
- A Systems Analysis of Political Life. Nova York, John Wiley & Sons, 1965 [trad. fr. L’Analyse du Système Politique, Paris, Librairie Armand Colin, 1974]
- A Framework for Political Analysis. Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1965 [trad. cast. Esquema para el Análisis Político, Buenos Aires, Ammorrortu, 1982.
- Varieties of Political Theory. Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1966. Ed.
- Contemporary Political Analysis. Glencoe, The Free Press of Glencoe, 1967.
- «The New Revolution in Political Science» In American Political Science Review, vol. LXIII, n.º Dez., pp. 1051-1061, Washington D. C., APSA, 1969.
- Children in the Political System. Origins of Political Legitimacy. Nova York, MacGraw-Hill, 1969. Com Jack Dennis.
- «The Political System Besieged by the State» In Political Theory, n.º 9, pp. 303-321, 1981.
- «Political Science in the United States. Past and Present» In International Political Science Review, vol. 6, Londres, IPSA, 1985.
- The Globalization of Political Science. Washington D. C., 1988.
- The Development of Political Science. A Comparative Survey. Londres, Routledge & Kegan Paul, 1991. Com John Gunnel e Luigi Graziani.
- The Analysis of Political Structure. Londres, Routledge & Kegan Paul, 1990.
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Regime and Discipline. Democracy and the Development of Political Science. Ann Arbor, University of Michigan Press, 1995. Com John G. Gunnel e Michael B. Stein, eds.
[1] Sobre a matéria DAVID M. RICCI, The Tragedy of Political Science. Politics, Scholarship, and Democracy, New Haven, Yale University Press, 1984, p. 215